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A greve continua e os alunos penam

Mesmo após a decisão judicial que determinou o retorno dos professores às salas de aula, sob pena de pagamento de multa diária de R$ 25 mil em caso de descumprimento, os professores decidiram, em assembleia realizada no início da tarde de ontem, manter a greve. Após a reunião, a categoria seguiu em caminhada até o Centro Integrado de Governo (CIG), na avenida Nazaré, com o intuito de pressionar o governo do Estado a acatar as reivindicações da categoria.

Para o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Pará (Sintepp), William Silva, a greve não foi considerada abusiva e a decisão de mantê-la reflete o anseio da categoria em conquistar todos os pontos dasreivindicações apresentadas ao governo. “Vamos continuar pressionando. Até quarta-feira estaremos entrando com um recurso questionando vários itens da decisão do juiz Elder Lisboa que não estão claros. Pela primeira vez o alvo da multa é o que eles chamaram de ‘presidente’ do sindicato, aqui nós temos coordenadores e nenhum destes deve ser alvo de multa. Somos representantes da categoria”.

Em nota, a assessoria da Secretaria de Educação do Estado (Seduc), lamentou a decisão dos professores e reafirmou que vai cumprir, na íntegra, a decisão judicial do último dia 4, a qual determinou o encerramento imediato da paralisação. A Seduc destacou ainda que respeita o direito à greve e que manteve ao longo do ano um diálogo aberto com a categoria por meio de mesas de negociação junto aos representantes do Sintepp, e que respeita o que definiu como “direito dos mesmos a um salário digno”.

Na nota, a secretaria informa que o governo adotará as medidas necessárias para atualizar o Piso Nacional Docente, de acordo com o que foi determinado pela Justiça – prazo de 12 meses, a partir de janeiro de 2012.

Está programado para hoje, às 9h, uma manifestação em frente ao Tribunal de Justiça do Estado do Pará. “Vamos cobrar do judiciário paraense celeridade nas ações apresentadas pelo nosso sindicato e que tramita lentamente na casa. O governo entrou com ação contra a greve e logo o parecer foi emitido. E as nossas, por que tanta demora?”, questiona Willian.

ENQUANTO ISSO...

O estudante da oitava série do ensino médio, Bruno César, acordou às 5h30 da manhã de ontem com a esperança de que retornasse às atividades desenvolvidas na Escola Estadual Maroja Neto, onde estuda. Apesar da notícia divulgada pela imprensa de que o juiz Elder Lisboa havia declarado o fim da greve, o estudante teve que voltar para casa sem assistir aula. “Eu tinha certeza de que ia ter aula”, lamentou.

Parado em frente ao portão do colégio, ele conversava com alguns amigos antes de ir para casa. Estudantes que, assim como ele, esperavam que a greve já houvesse acabado. Há 39 dias sem aula, Paulo Victor estava preocupado com o atraso do conteúdo. “O conteúdo já tava atrasado antes dessa greve por causa da greve do ano passado. Agora, piorou. Vamos ter que estudar um ano e meio para sair da 8ª (série)”.

PROVAS

Na escola em que Paulo estuda, em algumas salas, as aulas prosseguiam normalmente. Por motivos pessoais e ideológicos, a professora Maria do Carmo Tocantins não paralisou suas atividades. Com isso, na manhã de ontem, seus alunos da 4ª série já realizavam prova do conteúdo passado. “Eles estão dentro do calendário normal”.

Logo à frente, na sala da 5ª série, a professora Luzia Teixeira dava aula pela primeira vez após a sentença judicial. Assim que soube da decisão do juiz, retornou às salas de aula. Mas a insatisfação com a decisão de pagamento do valor integral do piso da categoria em 12 vezes, estava estampada em seu rosto. “Eu voltei hoje porque tenho compromisso com a educação, mas estou insatisfeita”, afirma. “Eu estou indignada com um país que tem tanto dinheiro e, mesmo assim, deixa a educação de lado”.

Ela afirma se indignar com a decisão de pôr fim à greve, mesmo que concorde que os alunos não podem sair prejudicados. “Sou a favor da reposição porque os alunos não têm culpa”, afirma. “Culpam os professores, mas recebemos um salário que não dá nem para pagar as contas”.

Revolta e incertezas nas escolas

Aluno da Escola Estadual Ulysses Guimarães, Renato Silva esperava sentado a definição de quando poderia voltar a assistir aula. O horário de entrada, marcado para 7h15, já havia passado há algum tempo, ainda assim ele ainda não sabia se poderia assistir aula. “Tô esperando, mas não falaram nada”, informou.

No mesmo pátio, a estudante do 2º ano do ensino médio, Joana Matos, entrava de sala em sala em busca de uma resposta. “Eu posso ir embora?”, questionava a todos que via. Com os cadernos em mãos, ela se dizia preparada para assistir aula, mas não sabia quando isso poderia acontecer. “Eu deveria ter aula de português, matemática e geografia hoje, mas acho que não vai ter aula”.

Na sala dos professores, as cadeiras estavam lotadas. O corpo pedagógico compareceu à escola ainda cedo, porém, nem mesmo eles puderam informar quando iniciariam as aulas. “Todos os professores estão aqui, mas vamos para a assembleia que vai acontecer para que a categoria decida se vai voltar da greve”, explicou o professor de história, Mário Araújo.

Enquanto o impasse não era definido, o pai de dois alunos da Escola Estadual Justo Chermont, Carlos Alberto Ferreira protestava contra os dias em que os filhos estão sem aula. “Me disseram que são poucos os professores que vieram dar aula. Como vai ser essa reposição? No ano passado, ficamos mais de 60 dias sem aula e isso não foi reposto”, afirma.

A empregada doméstica Thais Souza também ficou indignada quando teve que deixar o filho no colégio sem saber ao certo se ele teria aula. “É uma palhaçada.

A gente ainda perde dinheiro com isso porque ficamos pagando reforço para ele durante a greve”.

MARCHA

Amanhã a categoria deve se reunir no trevo do Conjunto Satélite, na Augusto Montenegro. De lá seguem em marcha até a sede da Seduc, onde querem ser recebidos pelo titular da secretaria, Cláudio Ribeiro.

(Diário do Pará)

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