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Pará tem a 7ª maior incidência do vírus HIV
“Temos uma mortalidade elevada no Norte e Nordeste em função das características específicas. No Norte, a rede de atenção básica à doença é muito concentrada nas capitais”, relaciona Ivo Brito, do Ministério da Saúde. “Essas regiões também possuem um déficit no número de organizações civis que trabalham no combate à Aids”.
O médico infectologista Lourival Marsola reconhece os problemas enfrentados no Estado. “O Pará possui uma realidade triste. O número de óbitos só aumenta. Na região Norte e no Pará vivenciamos um panorama de interiorização”, acredita. “Mais de 80% dos municípios do Pará têm pelo menos um caso de Aids”.
Segundo ele, a epidemia, no Estado, cresce em mulheres e, consequentemente, em crianças, em decorrência da transmissão vertical, quando a mãe passa o vírus para o bebê ainda na gestação. “Apenas 20% das mulheres grávidas têm o teste de HIV feito no Pará. A grávida que faz o pré-natal e toma o medicamento no momento certo tem toda a possibilidade de não infectar o bebê, mas as pessoas não fazem o teste no pré-natal”.
Para ele, a realidade do número insuficiente de leitos e do diagnóstico tardio no Estado, contribuem para que a doença ainda seja um problema sério no Pará. “78% dos pacientes que morreram de Aids no Pará nos últimos 12 meses tinham detectado o vírus há menos de um ano. Ainda morre muita gente sem tratamento no Estado”.
RANKING
Segundo o levantamento mais recente do Ministério da Saúde, divulgado ontem, o Pará ocupa a 7ª posição no ranking dos Estados com maior incidência do vírus da Aids no Brasil, se levados em consideração os casos notificados entre 2004 e 2010. A posição aponta uma ligeira queda de 21,5 casos por 100 mil habitantes notificados em 2009 para 19,5 em 2010, o que fez com que o Estado caísse de 6º para o 7º lugar.
Ainda assim, em Belém, o que se percebe é o inverso. No mesmo período, a cidade passou de uma incidência de 36,4 casos em 2009 para 41,3 em 2010, um aumento de mais de 11%. Com isso, a capital figura a lista das de maior incidência no 6º lugar. Em outros municípios, a situação também é preocupante. No ranking de municípios com mais de 50 mil habitantes, uma das maiores proporções de crescimento por município apresentadas pelo levantamento está em Paragominas. A cidade aumentou para 54,2 casos em 2010, contra 21,6 casos identificados em 2009.
Segundo a coordenadora estadual de DST/Aids da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa), Débora Crespo, o aumento no número de casos apresentados também está relacionado com o aumento no número de acesso aos testes rápidos. “O aumento dos casos é relacionado também ao acesso ao teste, apesar de o diagnóstico, no Estado, ainda ser tardio”. Atualmente, todo o Estado dispõe de poucos centros de testagem. “Aumentamos a identificação, mas ainda observamos um número de serviços insuficiente. Mas temos uma previsão de que consigamos ampliar esses serviços no interior do Estado”.
Ainda assim, segundo ela, a dificuldade de detecção da doença é agravada no inte-
rior pela ausência de profis-
sionais qualificados para atuar no diagnóstico da Aids. “Nós temos poucos infectologistas no Estado e essa é uma grande dificuldade com relação ao interior porque temos poucos profissionais qualificados nos municípios do interior”, afirma. “A Aids é uma doença silenciosa, então, o paciente já é diagnosticado em uma situação avançada, já doente”. De 1980 a junho de 2011, 12.532 casos de Aids foram registrados no Pará, onde também já foram registradas, em média, 1,3 mortes por dia em 2010, o correspondente a 480 mortes durante todo o ano.
TRANSMISSÃO
Débora ressalta também que a forma de transmissão mais comum, no Pará, ainda é através da relação sexual. “O maior desafio está no primeiro contato íntimo, a maior parte das infecções são por exposição sexual”. No período de 1985 a 2010, 1.128 homossexuais foram infectados com a doença, sendo que, no mesmo período, foram notificados 4.216 casos em heterossexuais. “Estamos vivendo agora, o que as Regiões Sul e Sudeste já viveram anos atrás”.
Aos 22 anos, o jovem Victor Silva descobriu que era soropositivo. Assim como na maioria dos casos diagnosticados no Pará, a transmissão aconteceu através da relação sexual desprotegida. Passado algum tempo do relacionamento de três anos que mantinha com o namorado na época, ele resolveu que não era mais necessário manter o uso da camisinha.
A decisão foi o que contribuiu para que, em 2010, ele descobrisse que tinha contraído o vírus HIV. “O nosso relacionamento não andava bem, então, durante uma discussão ele me disse ‘vai fazer o teu exame porque tu estás com Aids’”, lembra, ao contar do susto sentido com a notícia. “É verídico que as pessoas pensam logo em se matar, mas hoje, estou muito bem e sei que não vou morrer de Aids”.
A contração do vírus ainda tão jovem é uma realidade que vai além da história de vida de Victor. Ainda assim, apesar de constatar o maior crescimento de contaminação em jovens, ele faz questão de dizer que sabe lidar com o assunto. “O público alvo da Aids hoje é o jovem”, acredita. “O HIV é mais velho que eu, ele tem 30 anos, mas ele não vai me dominar”.
QUEDA
Para além da estimada estabilização do vírus da Aids no Brasil, um relatório divulgado pela Unaids, departamento das Nações Unidas que trata sobre as estatísticas da doença, aponta que o número de novas infecções pelo vírus no mundo apresentou queda de 21% desde 1997. Segundo o estudo, as mortes relacionadas ao HIV também diminuíram em 21% desde o ano de 2005. Ainda assim, somente no ano passado, 2,7 milhões de pessoas se infectaram com o HIV e 1,8 milhão morreram.
A queda no número de mortes vem sendo observada desde 2005, quando houve uma diminuição de 2,2 milhões de mortes para 1,8 milhão, em 2010. De acordo com o relatório, as cerca de 2,5 milhões de mortes evitadas em países de baixa e média renda são decorrentes do maior acesso da população ao tratamento com antirretrovirais desde 1995.
Paragominas se destaca como a 16ª cidade com maior incidência em um ranking de 100 municípios brasileiros. Em seguida vem Belém em 32º lugar, com 41,3 casos; Benevides em 34º lugar, com 40,7 casos; Redenção em 45º lugar, com 35,7 casos; Marituba em 56º, com 39,6 casos; Ananindeua em 93º, com 30,5 caos; e Bragança em 96º lugar, com 30,2 casos.
BREVE HISTÓRICO: 30 ANOS DA AIDS NO BRASIL
Anos 80
Período de pânico moral e também de mobilização comunitária.
- Prevenção – Descoberta das formas de transmissão.
- Tratamento – Grande novidade em 1988 foi o surgimento do AZT (antiviral indicado para o tratamento da Aids), única forma de tratamento na época.
- Ativismo – Mobilização de grupos afetados contra o estigma, como os homossexuais e as prostitutas.
Anos 90
Período de pânico econômico em decorrência do grande custo da doença para a economia dos países.
- Prevenção – Profissionalização e prevalência dos projetos de combate à transmissão. Início de outros modelos de prevenção através da cultura.
- Tratamento – Advento do ‘coquetel’ (1996) e a visualização da Aids como uma doença tratável, porém, surgem também os desafios para o acesso ao tratamento. A pessoa não morre mais de Aids, passa a viver com Aids.
- Ativismo – Diminuição de recursos, profissionalização e a necessidade de integração.
Anos 2000
Período de administração de respostas e a ‘epidemia’ de riscos sociais.
- Prevenção – Evidências científicas apontam para o reforço da prevenção versus o tratamento e o surgimento de novas tecnologias de prevenção. Nessa época, inicia-se, também, o processo de desuso da camisinha.
- Tratamento – Estudos de possíveis vacinas sem novidades significativas. Aids como ‘doença crônica’.
- Ativismo – Agravamento da diminuição dos recursos, descentralização de políticas e ações.
2011 e a 4ª década
Período de agravamento dos paradoxos. Estigma social contra a pessoa soropositiva.
- Prevenção – Novas tecnologias de prevenção e prevenção planejada.
- Tratamento – A possibilidade de cura como caminho para o controle ou extinção da doença. Controle social local e internacional sobre governos e instituições de pesquisa.
Fonte: Associação Brasileira
Interdisciplinar de Aids (Abia)