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Marituba sitiada pelo medo

“A pessoa não saindo, ela já morre. Imagina saindo”. Quem diz é Wanda de Souza, que volta a pé para casa com o filho Marcos, de oito anos. Temerosos. Cedo, às 16h, o retorno é mais tranquilo. Ela, de aparência cansada, vinha da casa da mãe. O garoto, magro, parece ter apenas cinco anos. Um menino, ainda. “Semana passada, mesmo, meu marido estava vindo para casa e quatro homens pularam em cima dele com o terçado. Roubaram os documentos e a bicicleta”. Atento, Marcos interrompe. “Foi bem ali, na outra rua”, aponta a criança. O local é a região da Santa Lúcia, no Loteamento Campina Verde, em Marituba. “Todo dia é assim. Depois das sete da noite, ninguém mais passa aqui com medo. Não tem luz. Fica um breu essa área”.
Parada em frente a um lixão aonde, segundo os moradores, caminhões da prefeitura abandonam o que recolhem no município, Wanda conta que a área foi esquecida. “O prefeito não tá nem aí, os ‘vereador’ não tão nem aí. Mas quando tem eleição, eles batem de casa em casa”, reclama.
No depoimento da dona de casa estão alguns dos problemas mais comuns do município de Marituba, região metropolitana de Belém. A insegurança, o mais notável. O ano de 2012 começou há apenas 13 dias e já foram registrados oito homicídios no município. A maioria com características do chamado “acerto de contas”. “Estamos fazendo ronda. O policiamento existe, mas o crime de execução é planejado. Eles esperam a polícia sair e matam quem têm que matar. Geralmente há um envolvimento com o tráfico de drogas”, conta o tenente-coronel Jeferson, da Polícia Militar.
São 150 policiais militares para atender a todo o município, que segundo o Censo do IBGE, em 2010, tinha 108.246 habitantes. “O efetivo ainda é pequeno, mas estamos conseguindo resultados. Nos bairros da União e São Francisco, os mais perigosos atualmente, as rondas são intensificadas”.
Mas a violência é geral. Do outro lado do lixão, onde dona Wanda passava, Raimunda Oliveira teve a casa invadida por ladrões. “Já entraram aqui cinco ‘vez’”. Ela é catadora de lixo e reclama da quantidade de assaltos que ocorrem na área onde mora. “Eles roubam, dão um tempo e voltam”. O vizinho Walter Santos completa: “É difícil achar alguém que não teve a casa invadida por aqui”. Segundo eles, o lixão só piora a situação. “Isso aí é uma nojeira, esses dias eu tava com dengue. Fica tanta água empoçada que só pode dar nisso”, diz. Cinco vizinhos reunidos queixavam-se dos mesmos problemas. O receio de dar nomes é geral. Sorriem, viram o rosto e dizem que o nome, eles não falam.
O temor se estende por boa parte de Marituba. No Loteamento Nova Aliança, na região da Fazendinha, moram 150 famílias. De acordo com a Polícia Militar, o maior problema ali é o tráfico de drogas. “O convívio entre os moradores é tranquilo, mas a gente pode confiar em quem? Marituba é perigosa em qualquer parte”, conta o pastor Cleolson Cristo. Para ele, só uma coisa mudaria a vida de quem mora por lá. “Precisa é ter uma segurança pública de compromisso com a sociedade. Podiam ter poucos na rua, mas se tivessem compromisso seria melhor”, afirma.
AÇÕES
A Prefeitura de Marituba declara que tem apoiado o trabalho das polícias Militar e Civil, garantindo iluminação pública, pavimentação das ruas e projetos socioeducativos, além do fornecimento de motocicletas para o 21° Batalhão da PM. A prefeitura destaca que, embora a segurança pública seja, legalmente, um dever do governo estadual, o poder municipal pode facilitar ação do Estado tomando medidas de precaução.
Segundo o delegado Álvaro Gomes, da Delegacia do Decouville, a Polícia Civil, por meio da Seccional de Marituba, está realizando a Operação Hypnos, para garantir a segurança da cidade. “Começamos no primeiro fim de semana de janeiro. As polícias estão integradas e temos apoio das viaturas. Estamos em ronda em locais de frequência suspeita, como os bares. Muito bandido já foi preso”, garante. 
RELEMBRE
01/01
Por volta das 6h30, um jovem conhecido como “Thiaguinho” é morto a golpes de pau e pedra na cabeça, no bairro do Mirizal. Com o corpo, a polícia encontrou celular e carteira com R$ 100.
03/01
Um homem não identificado é morto com dois tiros na cabeça, no bairro da União, num crime que, segundo a polícia, tem características de execução.
06/01
Um adolescente de 17 anos é vitimado por um tiro de revólver calibre 22, supostamente em uma brincadeira entre estudantes, dentro da casa de um deles, no centro de Marituba.
06/01
Um homem identificado apenas como Raimundo, de cerca de 60 anos de idade, é encontrado morto com três tiros, no bairro do São Francisco. Ele segurava as chaves de casa e a polícia acredita que tenha reagido a um assalto.
08/01
Everton da Silva Melo, 22 anos, serviços gerais, é morto com um disparo de arma de fogo na cabeça, no bairro do Decouville, segundo a família, depois de olhar para o assassino. A polícia trabalha com a hipótese de crime passional.
08/01
Uma adolescente de 15 anos é morta com dois tiros, por volta das 15h. Ela foi encontrada em um terreno baldio próximo à ocupação Usina, onde morava. A hipótese é de que o assassinato teria sido motivado por ciúmes, mas a polícia também investiga se a razão seria uma briga entre grupos de invasões vizinhas.
11/01
No final da noite, dois homens não identificados foram assassinados a tiros dentro de um carro, no bairro Novo Horizonte. As vítimas teriam sido mortas por outros dois homens que estavam no banco de trás do mesmo carro. Os documentos pessoais, dinheiro e aparelho de som do carro foram roubados.
(Diário do Pará)

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